quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Meu ideal seria escrever...

Rubem Braga

Meu ideal seria escrever uma história tão engraçada que aquela moça que está doente naquela casa cinzenta quando lesse minha história no jornal risse, risse tanto que chegasse a chorar e dissesse -- "ai meu Deus, que história mais engraçada!". E então a contasse para a cozinheira e telefonasse para duas ou três amigas para contar a história; e todos a quem ela contasse rissem muito e ficassem alegremente espantados de vê-la tão alegre. Ah, que minha história fosse como um raio de sol, irresistivelmente louro, quente, vivo, em sua vida de moça reclusa, enlutada, doente. Que ela mesma ficasse admirada ouvindo o próprio riso, e depois repetisse para si própria -- "mas essa história é mesmo muito engraçada!".

Que um casal que estivesse em casa mal-humorado, o marido bastante aborrecido com a mulher, a mulher bastante irritada com o marido, que esse casal também fosse atingido pela minha história. O marido a leria e começaria a rir, o que aumentaria a irritação da mulher. Mas depois que esta, apesar de sua má vontade, tomasse conhecimento da história, ela também risse muito, e ficassem os dois rindo sem poder olhar um para o outro sem rir mais; e que um, ouvindo aquele riso do outro, se lembrasse do alegre tempo de namoro, e reencontrassem os dois a alegria perdida de estarem juntos.

Que nas cadeias, nos hospitais, em todas as salas de espera a minha história chegasse -- e tão fascinante de graça, tão irresistível, tão colorida e tão pura que todos limpassem seu coração com lágrimas de alegria; que o comissário do distrito, depois de ler minha história, mandasse soltar aqueles bêbados e também aqueles pobres mulheres colhidas na calçada e lhes dissesse -- "por favor, se comportem, que diabo! Eu não gosto de prender ninguém!" . E que assim todos tratassem melhor seus empregados, seus dependentes e seus semelhantes em alegre e espontânea homenagem à minha história.

E que ela aos poucos se espalhasse pelo mundo e fosse contada de mil maneiras, e fosse atribuída a um persa, na Nigéria, a um australiano, em Dublin, a um japonês, em Chicago -- mas que em todas as línguas ela guardasse a sua frescura, a sua pureza, o seu encanto surpreendente; e que no fundo de uma aldeia da China, um chinês muito pobre, muito sábio e muito velho dissesse: "Nunca ouvi uma história assim tão engraçada e tão boa em toda a minha vida; valeu a pena ter vivido até hoje para ouvi-la; essa história não pode ter sido inventada por nenhum homem, foi com certeza algum anjo tagarela que a contou aos ouvidos de um santo que dormia, e que ele pensou que já estivesse morto; sim, deve ser uma história do céu que se filtrou por acaso até nosso conhecimento; é divina".

E quando todos me perguntassem -- "mas de onde é que você tirou essa história?" -- eu responderia que ela não é minha, que eu a ouvi por acaso na rua, de um desconhecido que a contava a outro desconhecido, e que por sinal começara a contar assim: "Ontem ouvi um sujeito contar uma história...".

E eu esconderia completamente a humilde verdade: que eu inventei toda a minha história em um só segundo, quando pensei na tristeza daquela moça que está doente, que sempre está doente e sempre está de luto e sozinha naquela pequena casa cinzenta de meu bairro.

A crônica acima foi extraída do livro "A traição das elegantes", Editora Sabiá - Rio de Janeiro, 1967, pág. 91.






Meu ideal seria escrever...

(Paulinho Rogerio) 

Meu ideal seria escrever sobre um país mais alegre, sem corrupção, onde todos os políticos cumprissem as promessas que são feitas. Onde nossos pais fossem mais compreensíveis, que nossos amigos fossem mais fiéis.
Mas como nem tudo é como a gente espera, eu vou ter que escrever sobre um país inteiramente poluído, em todos os sentidos, da poluição visual, até a poluição de grandes fábricas que acabam com a camada de ozônio.  Falarei também de pais que vivem trabalhando e não têm mais tempo para os filhos; de maridos ausentes em casa; de esposas que, com os maridos ausentes, arrumam amantes; de filhos que não entendem os pais, acham que  seu “mundinho” é tudo, e não olham ao seu redor; de amigos que, na sua frente dizem: “To contigo...”, mas na primeira briga, param de se falar; de pessoas que, por mais que pareçam felizes, usam mascaras com um sorriso e um belo “bom dia”, mas  por baixo dessas mascaras estão ardendo em tristeza, de infelicidade.
Como não custa sonhar, meu ideal ainda seria escrever  de um lugar onde não existam divórcios, falsidade, dores, corações partidos.  Mas só exista amor, carinho, bondade e tudo de bom, onde todas as mascaras da vida sejam arrancadas e que as pessoas sejam realmente felizes.



Com essa atividade, nossa orientadora Jacqueline Andrade, solicitou que todas nós, escrevessemos sobre os nossos ideais de escrita.


Abaixo o ideal de cada uma da equipe. Esperamos que gostem ;)


Meu ideal seria escrever...
(Ana Cristina)

Meu ideal seria escrever sobre gentileza, como seriamos mais felizes se utilizássemos essa palavra no nosso dia-a-dia. Como as pessoas se tornariam mais leves, como o mundo se tornaria mais bonito se aprendêssemos olhar para o próximo com respeito e educação.

Mas nem tudo pode ser como a gente quer ou pensa. As pessoas se tornando cada vez mais egoístas, como se tudo estivesse ao seu redor.

Como gosto de sonhar, continuo acreditando que as pessoas irão mudar,sendo mais educadas, agradecendo, utilizando palavras gentis, como um bom dia, boa tarde, boa noite, por favor, obrigada, desculpa e dentre outros.
Como não custa nada sonhar vou continuar tentando, pois a vida é bela e com gentilezas o mundo se tornaria mais bonito.




Meu ideal seria escrever...
(Daniele Cristina)


Meu ideal seria escrever uma historia tão perturbadora que abordasse os direitos e deveres de um cidadão, levando assim os mesmos a uma reflexão revolucionaria em torno do mundo; como aquela jovem que vivia desmotivada com os valores sociais existente na sociedade na qual vivia, logo assim pretendeu escancarar seus sentimentos para alertar o mundo; principalmente, os sujeitos existentes neste, que vivem numa realidade nociva, tendo os mais privilegiados de poder aquisitivo vivendo das carências dos menos informados.

Gostaria que com esta paráfrase fizesse brilhar os olhos do cego, que renascesse a esperança do pessimista, e florescesse a vivência do desmotivados, que literalmente levaria o injusto de ter a capacidade de exprimir suas palavras dizendo: "eu sou realmente o culpado".
E que, devagar, esta história fosse seguida por um exército de leitores atentos, clamando por esta boa ação, defendendo os respectivos lugares que cada um deveria ocupar na sociedade.
E quando todos se entreolhassem, e refletissem a realidade na qual vivem, eles mesmos se perguntariam como não tinha percebido tamanha injustiça, e seriam automaticamente encarregados de obter a resposta de adaptação ao meio.
Logo, poderia crer que os direitos e deveres voltassem para o seu devido lugar.



Meu ideal seria escrever...
(Dannyelly Duarte)


Meu ideal seria escrever sobre a felicidade, onde todos vivessem em paz, feliz mesmo estando com aquela tristeza que agoniza dentro de si querendo explodir.
E todo que estivesse no trânsito engarrafado em plena sexta-feira dentro de ônibus, tivesse a ousadia de levantar-se par dar lugar a um idoso que estivesse em pé.

Meu ideal seria escrever sobre a história de cada família, que vive em constante tristeza e lamenta a cada dia. Onde sua rotina estressante não fosse tão estressante assim, que quando chegasse à sua casa, olhasse para seu filho irradiante, explodindo de felicidade querendo pelos menos meia hora do seu tempo para brincar com seu pai e este tivesse disposição para supri a necessidade de seu filho.



Meu ideal seria escrever...
(Fernanda B. dos Santos)

Meu ideal seria escrever sobre uma família feliz, sem brigas, sem traição, sem trabalho em tempo integral, sem dificuldades financeiras, escrever sobre pais presentes, sobre filhos compreensíveis...

Mas, infelizmente, na minha dura e cruel realidade, vou ter que escrever sobre a família que conheço; onde o marido jura amor eterno pela mulher, mas, na primeira oportunidade a traí sem pensar nas conseqüências; onde a mulher para ajudar nas despesas da casa, acaba entregando seus filhos a cuidadoras e abrindo mão da educação deles e tendo que sair as 06h da manhã e voltar quando todos já foram dormir. Isso lhe traz uma profunda tristeza e muita culpa.
Sou forçada a escrever sobre as dificuldades financeiras vividas por essa mesma família, que mesmo tendo os pais empregados, acabam acumulando dívidas, pois, para suprir a ausência para com seus filhos, terminam a comprar tudo que eles querem sem saber que a única coisa que eles realmente precisam é da presença e da atenção deles.

Mas, como ainda acredito que por aí em algum lugar, exista a tão sonhada família feliz, meu ideal ainda seria escrever sobre a extinção do divórcio, sobre o fim das brigas em tribunais referente à pensão alimentícia; sobre a amizade e cumplicidade dos filhos para com os pais e vice-versa.
Meu ideal ainda seria escrever sobre os filhos organizando uma festa surpresa de bodas de ouros dos pais para comemorar essa tão sonhada família feliz.



Meu ideal seria escrever...
(Mariana Pereira)


Meu ideal seria escrever sobre escolas brilhantes e comprometidas com uma boa educação. Onde os alunos fossem vistos como seres humanos capazes e aptos para serem formados cidadãos íntegros e sociáveis.

Mas, como nem tudo é como nós esperamos, terei que escrever sobre escolas desvalorizadas, manchadas pela corrupção e pelo tráfico, onde não há mais a responsabilidade com a formação do caráter, mas, apenas, a existência de professores fadigados e ansiosos pela sua aposentadoria.

Como não custa sonhar, meu ideal ainda, seria escrever sobre a escola onde não existam professores desmotivados, mal pagos e sem esperança nos alunos. Mas só existam professores felizes, bem pagos, tranqüilos e que houvesse a capacidade e a possibilidade de formação de cidadões sustentáveis.



Meu ideal seria escrever...
Viviane Carlos


Meu ideal seria escrever sobre um sentimento que corrói a alma, destrói as relações e por muitas vezes manifesta no ser humano desejos que podem ser maléficos ou benéficos.
Tememos a ela, a queremos distantes de nossas vidas. Mas deveremos reconhecer que esta somente brota no coração da maioria das pessoas, e que o nome dela é inveja.
Para mim invejar é cobiçar, desejar, querer possuir para si o que é do outro. No entanto, a meu ver, a inveja está na maneira desse querer.
Muitas vezes o querer implica o desafio de vencer os seus próprios limites. As conquistas dos outros despertam o desejo de ir além, pois se ele conseguiu as pessoas se perguntam, por que eu não? Sendo assim, a pessoa não deseja o mal de ninguém, apenas almeja para si, o que o outro já possui.
Olhando por esse ponto de vista, todos aqueles que se tornaram nossas copias, o foram, pois tínhamos algo que invejávamos, e que, portanto, queriam conquistar. Já nesse contexto poderíamos considerar a inveja como boa, já que ela representa o desejo de novas conquistas, progressão tendo como exemplo pessoas que atingiram os mesmos objetivos, tanto que a classifico como algo normal e sadio.
Por outro lado, temos a inveja que seca as flores, a qual por muitas das vezes os indivíduos nem sabe que a possui. Ela me entristece, pois transforma o caráter do individuo.
É muito triste, porém podemos melhorar a situação entendendo o quanto essas pessoas são doentes e infelizes. Teremos que encarar este ato como uma enfermidade, procurando entender como “essa doença” se manifesta assim nos protegeremos e também ajudaremos.
Contudo, se o mesmo pensamento final não for seguro, não afastar o medo, o jeito será correr para o velho e poderoso caminho de arrudas atrás da orelha, acompanhado de vários banhos de sal grosso.

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